Trekking Poles

Utilizar ou não trekking poles (bastões de caminhada)? Essa é uma pergunta que algumas pessoas sempre me fazem quando o assunto é corrida de montanha com grande desnível acumulado.

Depois de ler, testar, treinar e utilizar em duas ultramaratonas (80 e 160 km) minha opinião é que os bastões mais atrapalham que ajudam. Vou explicar melhor meu ponto de vista sobre o equipamento para que fique clara minha posição.

Existem diversos tipos e modelos de bastões desde os mais resistentes e compactos aos que mais se parecem com varas de pesca adaptadas, e que no primeiro esforço já estão empenados.

Nas corridas de montanha um dos maiores desafios é superar as intermináveis subidas com inclinações que desafiam a gravidade. O esforço é muito grande nestes trechos e o desgaste físico é inevitável, principalmente das pernas. Uma alternativa que muitos corredores adotam para distribuir o esforço é utilizando bastões, que auxiliam na propulsão durante as subidas.

Para mim, essa é a única vantagem na utilização dos bastões. Em contrapartida existe diversas desvantagem que quando colocadas na balança pesam contra a sua aplicação. Vamos a elas.

Os bastões de qualidade são leves e ocupam pouco espaço na mochila. Porém, quando estão sendo utilizados eles acabam interferindo na realização de outras atividades. Se hidratar e alimentar com os bastões presos aos punhos só é possível se você fizer uma parada para tal. Deixá-los “solto” no braço e seguir correndo ou mesmo caminhando poderá gerar um acidente como tropeçar nos bastões ou enganchá-los em algum tronco, galho ou pedra. Dessa forma, cada vez que você precisa realizar uma atividade é preciso parar e com isso está perdendo tempo. Provavelmente mais tempo que você ganhou utilizando eles na subida para lhe ajudar.

Ao final de uma subida é preciso desmontá-lo para iniciar a descida a não ser que você tenha um nível técnico muito alto para descer correndo com ele montado. Mesmo assim o risco dos bastões ficarem preso em algum lugar é grande e dependendo da velocidade, poderá tropeçar neles e acabará “comprando” um belo terreno (expressão que o pessoal do Mountain Bike utiliza quando alguém leva um tombo daqueles).

Além disso, com os bastões nas mãos você não pode se apoiar em nada e se o terreno tiver obstáculos como cercas e troncos baixos será uma tragédia para transpô-los com os bastões.

Minha opinião é contrária a utilização dos bastões em corridas de montanha. Não apenas pela perda de tempo em montá-lo e desmontá-lo, e sim pelos riscos envolvidos com o terreno e o quanto prejudica na alimentação e hidratação. De nada adianta aliviar as pernas na subida e não conseguir executar uma boa alimentação e hidratação por causa deles.

A corrida de montanha não se resume as subidas. Para isso existem modalidades específicas como o Vertical Running onde as distâncias são curtas e o que interessa é atingir o cume. Neste tipo de prova a maioria dos atletas utilizam bastões, pois o tempo de prova é curto e em geral não é necessário se alimentar e hidratar durante o evento. Na corrida de montanha o que importa é o conjunto, que envolve subidas, descidas e às vezes trechos planos.

Dessa forma, se quer evoluir, treine duro nas subidas e se adapte a elas. Não existem milagres, nem equipamentos que irão te levar até o cume e que são permitidos nas provas. É preciso ganhar metros e mais metros de desnível positivo, temporada após temporada. Assim, ficará forte o suficiente para encarar as subidas como deve ser. Livre!

Minha recomendação é que todos leiam muito sobre o assunto e se possível façam o teste com os bastões e cheguem as suas conclusões. Compartilho aqui apenas as minhas experiências vividas nestes anos de corridas de montanha.

No próximo post falarei das técnicas utilizadas pelos principais corredores do mundo para encarar subidas sem a utilização de bastões.

Menos é mais.

Um forte abraço e boas corridas

Léo